quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Aquele amigo

                                                             Aquele amigo




Todo mundo tem “aquele” amigo. Que entende cada uma das nossas bobagens, que dá corda às nossas paranóias, que ri da gente na nossa cara e chora no nosso ombro. Aquele amigo que é mais nosso do que dos outros, que conversa pelo olhar (o que é muito útil para se comunicar de longe...rs), e é a primeira pessoa que surge na nossa mente quando algo importante acontece (e precisa ser compartilhado). Que sabe cada uma das nossas respostas, sem a gente precisar dizer. Com quem nunca é chato estar. Que dá sentido a cada ideia super maluca que a gente tenha (mesmo que com argumentos inventados, só pra gente se sentir menos maluco). E que, quando necessário, diz aquilo que a gente precisa escutar, não só o que a gente quer. Aquele amigo é em quem depositamos toda a nossa confiança, e que acreditamos que será tão amigo a vida inteira quanto é agora.
  Mas nem sempre é assim. A vida às vezes dá voltas. E às vezes dá um mortal duplo carpado, e a gente aterrissa de cara no chão, sem saber bem onde foi parar. E percebemos que estávamos encarando como “aquele” o amigo errado. Tanto tempo e energia dedicados à quem não tinha a intenção de retribuir, afinal. O vento levara cada “pra sempre” falado. Aquilo que pensávamos ser permanente, aos poucos se dissolve. Acaba. Não acontece de uma vez, como possa parecer. É que só queremos admitir quando não há mais meio de negar. Fechávamos os olhos para cada sinal, ignorávamos cada evidência de que aquilo não estava mais funcionando como antes, de que aquele coração estava pouco a pouco se afastando do nosso. Até que somos obrigados a enxergar que aquilo não é (talvez não mais, talvez nunca tenha sido) tão profundo como fora antes.
  Geralmente o que parece mais inquebrável é o que tem mais chances de nos cortar com os cacos. Aquilo em que mais depositamos confiança é o que mais tem poder de nos ferir quando falha. E, pode ser até que essa falha sempre estivesse lá, e somente os nossos olhos eram incapazes de ver.
   É doloroso vê-lo se perder da gente. Mas é ainda mais devastador vê-lo se perder dele mesmo, e do bom caminho que percorríamos juntos. Talvez nos sintamos culpados por não ter conseguido ajudá-lo o suficiente, apesar de todo o esforço. Mas é bom lembrar que o erro de uma pessoa nunca é por culpa de outra. Muito provavelmente nada do que tivéssemos feito de diferente poderia ter tido qualquer efeito sobre sua decisão. Isso porque, por mais maravilhoso que seria se fosse possível, não podemos tomar decisões por ninguém além de nós mesmos. Nos cabe apenas aconselhar tanto quanto possível, e esperar pelo melhor.
  Talvez ele esteja apenas perdido no meio de uma tempestade. E, por mais que a nossa vontade seja sempre estender um braço firme em que ele possa se agarrar, e puxá-lo para onde sabemos ser o lugar mais seguro, temos que aceitar caso ele esteja lá por vontade própria, ou por uma falsa sensação de extrema liberdade. Ficarmos lá, estendendo o braço com todas as nossas forças para alguém que não está à procura de um abrigo, só vai nos desgastar, tirar nossa paz, ferir nossos sentimentos.
  Não se pode ajudar quem não quer ser ajudado. Não se pode cobrar amizade de quem não a tem para dar. As pessoas só podem dar aquilo que tem, por isso não se pode cobrar paz de quem vive em turbulência. Ou amor de quem só possui indiferença. Não é justo carregar a falha do outro nos ombros, e nem cobrar de nós mesmos reparações. Não cabe a nós. O que podemos fazer por ele é orar, esperar pelo melhor, e estender, não só um, mas os dois braços, para dar um abraço sufocante caso ele reconheça seu erro e dê meia volta. E o que podemos fazer por nós é manter nossa paz, e aceitar que não podemos interferir tanto quanto gostaríamos nas decisões de ninguém, que a ajuda que podemos dar é limitada, e procurarmos não perder a alegria. E, caso ela acabe se perdendo por um tempo, que possamos descobrir que ela pode ser reencontrada em muitos outros lugares, situações e pessoas.


*MaRi Rezk*



  

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Sobre escrever...

                                                       Sobre escrever...




  É traduzir o que a sua cabeça pensa do que o seu coração sente. É tirar de dentro do nosso coração tudo o que não cabe mais nele. É tentar dar nome a uma lágrima, a um sorriso, a um friozinho na barriga. É mostrar que nenhuma dor é exclusiva, nenhuma mania é única, e que certas palavras podem mudar o dia de alguém e fazer com que muitas outras palavras nasçam nas cabecinhas de quem leu as suas. É ensinar com a sua história, boa ou ruim.
  Não é bem um vício. Está mais para necessidade, mas de um tipo diferente da de comer e dormir, por exemplo. É uma necessidade de se expressar de forma a ser plenamente compreendido. E principalmente de “desengasgar”. Tirar aquele “nózinho” na garganta que tanto incomoda. E às vezes o nózinho  surge quando a gente menos espera. Basta alguém perguntar “Você já pensou sobre...?”, e imediatamente você fabrica um texto na sua cabeça sobre o assunto, já busca sinônimos e regras de concordância na memória, corre os olhos ao redor procurando uma caneta e um pedacinho de papel qualquer, só para não perder a ideia que acabou de brotar. E aí, depois desse súbito momento de adrenalina, você sente a necessidade de dividir com alguém aquela ideia escrita, nem que seja para uma pessoa só (todo aspirante a escritor tem “a pessoa” [eu tenho várias]).
  A maioria de nós somos amadores, simples curiosos. Geralmente o amor à escrita é resultado de anos de amor à leitura, mas também surge da necessidade de quem não é muito bom com palavras faladas (como eu). E aí, de redação em redação a gente se encontra, e aquelas ideias vagas que não sabiam se fazer entender começam a ganhar significado.
  Sempre que algo à nossa volta acontece, e nos balança, nada melhor para entender como realmente estamos nos sentindo a respeito disso quanto colocar no  papel. Isso nos ajuda a enxergar mais claramente a situação, e mais, nos enxergar por dentro.
  E quando não conseguimos passar aquela dorzinha na boca do estômago pro papel, às vezes por falta de tempo, ela cresce. E cresce tanto que nos dá um leve desesperozinho, principalmente de perder aquelas ideias. E nada funciona enquanto as palavras não saem da gente. Nenhuma conversa flui como deveria, o olhar fica perdido. E, quando finalmente elas saem, dão um trabalhão. Escrevemos, rabiscamos, trocamos de lugar, reescrevemos. E nunca está perfeito. Mas quando finalmente conseguimos colocar nossos pensamentos da forma mais aceitável possível, depois de pedirmos a opinião da “pessoa” (da vez), chega o maior motivo de animação daquele dia – a hora de compartilhar. É uma ansiedade sem fim, uma felicidade tão boba, mas tão sincera. E uma eterna insegurança paira sobre os silenciosos primeiros minutos. Mas quando as primeiras respostas chegam, não há tragédia que tire o sorriso do rosto.
  Aqueles sentimentos que pensávamos ser só nossos começam a ganhar nome e forma, e descobrimos que outros compartilham das mesmas sensações. E melhor do que nós mesmos conseguirmos compreender esses sentimentos, às vezes tão confusos, é saber que fomos capazes de traduzi-los a outros, e que essas pessoas se encontraram nas nossas palavras. Esse sentimento, de tão grande e tão precioso, ainda não consegui traduzir.


*MaRi Rezk*


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Virar gente

                                                              Virar gente




  Eu amo chocolate, amo animais e tenho a mesma loucura (aceitável) que a grande maioria das pessoas tem de perder a noção de idade quando está perto de plástico-bolha. Perfeitamente normal as pessoas gostarem dessas coisas. E é até compreensível quando alguém fala: “Chocolate é melhor que gente”, ou “Prefiro plástico-bolha a pessoas”, ou “Meu cachorro é melhor que muita gente”. Afinal, todos temos aqueles dias em que preferimos a companhia de uma barra de chocolate do que de pessoas te cobrando coisas, te pedindo coisas, grosseiras, ou simplesmente pessoas que são, por natureza, irritantes. Não temos a obrigação de estar o tempo todo felizes e dispostos a interagir com outros seres humanos. E, na minha opinião, é até saudável reservar um tempinho, ainda que sejam apenas alguns minutinhos, de cada dia só para joguinhos bobos, doces ou os bichinhos que a gente gosta tanto. Ou até para rolar em cima de pedaço enorme de plástico-bolha  (já vi acontecer).
  Mas existem algumas pessoas que acabaram se decepcionando demais com a humanidade, e que resolveram que vão dedicar todo o seu afeto a seu pet, ou que almeja a solidão mais do que qualquer outra coisa. Porém, vale lembrar, nem mesmo a humanidade é “generalizável” (Não sei se essa palavra existe, mas se não existia, agora existe. Aceite.). É claro que algumas pessoas vão nos decepcionar e até mesmo tirar a nossa alegria por um tempo. E podemos até mesmo começar a acreditar que a maioria das pessoas é ruim, e que praticamente todas elas merecem o nosso desprezo. E sim, tem muita gente ruim lá fora. Eu mesma me choco com algumas coisas que vejo, de como seres humanos podem ser cruéis com quem não tem nenhuma defesa, gente ou bicho, seja com atos tão tão terríveis, ou palavras tão tão duras, ou com maldades sem propósito nenhum.
  Mas aí, Hey!, você se lembra que não existem só pessoas ruins no mundo. Se você olhar cuidadosamente, vai encontrar pessoas que nos mostram o que é ser gente de verdade. Afinal, quem nunca ouviu que precisava “virar gente”, né?! E talvez percebamos que virar gente seja mais do que apenas crescer, mas ter um grande coração, que ame antes de julgar, e que comporte mais pessoas do que mágoas, que enxergue mais qualidades do que defeitos. Virar gente envolve entender que nossas ideias nem sempre são as melhores, nossas escolhas nem sempre são as mais acertadas, e que, por mais que não entendamos naquele momento, nós estaremos errados em algum ponto, e que não há vergonha nenhuma em reconhecer. Porque gente também erra. E reconhece. E se desculpa.
  Se a gente se concentrar nas pessoas boas ao invés de pensar tanto em pessoas ruins, vamos encontrar gente que é tão tão gente.... Pessoas que ajudam outras pessoas, mais  fracas, tristes, e até perdidas, com um prato de comida, com uma palavra de conforto, com um abraço apertado. Gente que dá de si, e se coloca de lado para o maior conforto do outro. Que acarinha com o olhar,com o tom da voz. Gente que sabe a hora certa de dizer a coisa certa, que lê no nosso rosto um pedido de ajuda. Gente que acolhe gente que precisa, seja em casa, nos braços, no coração. Que perdoa, sem que a pessoa peça ou mereça, por entender que todos são imperfeitos, e que a próxima a errar talvez seja ela mesma. Que dedica toda a sua vida a ajudar o próximo, seja materialmente, seja espiritualmente, levando esperança, amor. Gente que entende que a vida do outro é tão importante quanto a sua, e que ele não precisa de tudo o que quer, e, portanto, pode dedicar-se a levar um pouquinho de felicidade a quem não tem nenhuma.
Olhando ainda mais cuidadosamente, talvez encontremos gente que seja gente antes de ser qualquer outra coisa. Que sejam gente, de forma tão ampla e completa, que tornam o significado da palavra “gente” ainda mais complexo. Pessoas que vivem para  o bem, para dar ainda que um pouco de consolo para quem sequer vai agradecer depois, mas que,por serem tão gente, se contentam com um sorriso de canto, um brilho no olho. São pessoas que dão aquilo que têm, ainda que precisem, para quem precisa mais.
  Toda essa “gente”, tão cheia de bondade e amor, são as pessoas que realmente precisamos observar, e são nelas que precisamos nos inspirar. A chave está na bondade, ou sincera vontade de ser bom pro outro. A capacidade de colocar o amor ao próximo acima de qualquer outro desejo que apareça no nosso coração. Um amor limpo, livre de qualquer influência que nossos olhos e ouvidos possam ter sobre ele. Um amor que não diminua ao ser testado, e que não desapareça por não ser correspondido. Que entenda que, mesmo ao ser retribuído com ódio ou ingratidão, fez o que devia, e sinta-se satisfeito.
  Ser gente requer sentimentos tão profundos e intensos que soa um tanto quanto impossível. Mas, pode-se ser gente, a meu ver, num gesto, numa palavra de carinho, em uma ou outra vez que sentimos um genuíno impulso de estender a mão a alguém, livre de qualquer intenção secundária.
  Ser gente o tempo todo, para nós seres humanos imperfeitos e falhos, é impossível. Mas agir como gente de vez em quando, quando surge a oportunidade, ou quando fazemos com que uma oportunidade apareça, já nos ajuda a ser apontados como “Aquela pessoa agiu como gente”. E garanto que não há chocolate, filhotinho fofo, ou plástico-bolha que nos traga uma sensação melhor do que essa.


*MaRi Rezk*


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Palavras

                                                              Palavras




  Estava eu aqui pensando em todas aquelas coisas bobas que eu já falei. Sabe quando você se deixa levar pela emoção do momento, e aí de repente acaba achando super normal dizer que “ama” alguém, ou que tal pessoa vai estar “sempre” na sua vida, ou que “nunca” vai abandonar fulano? Pois é, nem tudo foi real. Pensando bem, parece que quando a gente resolve dizer coisas desse tipo, aquela relação está  automaticamente fadada ao fracasso.
  É que, hoje em dia, estamos tão acostumados aos exageros de linguagem que acabamos nos esquecendo do tamanho das palavras, e as usamos imoderadamente, mesmo que sem querer.
   Aquele “sempre” talvez não pretenda ser tão duradouro. Pode ser que dure um mês, um ano, alguns anos, e, se tiver muita, mas muita sorte MESMO, dure a vida toda. Mas nos acostumamos a usá-lo sem pensar em tempo. O mesmo se aplica ao “nunca”, que tomou o lugar do “não”, e é jogado aos montes, geralmente no calor de um momento bom ou ruim. “Nunca mais”, “nunca na vida”, “nunca vou esquecer”. “Nunca vou te deixar”. Se esse “nunca” cumprisse seu propósito com base em seu significado, seríamos poupados de muitas decepções. Igualmente o amor e o ódio, que são poderosos demais para serem dedicados à alguém sem termos no mínimo certo grau de certeza.
  É claro que algumas circunstâncias mudam, e o que sentíamos pode se transformar em algo diferente. Pode ser que aquela forte ligação que tínhamos por alguém sofra uma interferência do tempo, distância, ou de um acontecimento inesperado. Raros são os relacionamentos que permanecem sempre com a mesma intensidade. E é até compreensível que eles mudem. Faz parte da vida o ‘transformar-se’.
  Mas não quer dizer que vamos distribuir por aí palavras de grandes significados, e depois nos dar a desculpa de que podemos mudar de opinião sempre que bem entendermos.
  E também é importante lembrar-se que, ao lançar à alguém uma palavra de forte significado, você está mexendo com os sentimentos daquela pessoa. Você a expõe à algo que no fundo nem significa tanto para você, e pode acabar por deixar cicatrizes em um dos lados.   Quanto mais você usa uma palavra especial, menos valiosa ela vai se tornando. E quanto mais desprezarmos o seu valor, menos credibilidade teremos para usá-la quando realmente pretendermos.
  Certas palavras precisam ser usadas com responsabilidade para não iludir, não partir corações, e não destruir a grandiosidade das mesmas.
  Você não vai ser sempre amigo das mesmas pessoas da mesma forma que é hoje. E isso que você sente por aquela pessoa que você conheceu semana passada, muito provavelmente não é amor. Pode ser que você sinta uma grande amizade pela pessoa, ou uma forte atração, ou um imenso carinho. Mas dizer à uma pessoa que sente por ela o que há de mais poderoso no universo, de forma que a faça acreditar mesmo nisso, pode ser motivo de grande decepção para ela algum tempo depois.
  Não associe eternidade à sentimentos rasos, nem aceite “sempres” e “nuncas” de pessoas rasas. Pode ser que alguém queira prender você à ela, fazendo com que você acredite que aquela forte palavra tem também um forte significado. Não se deixe enganar por palavras bonitas e frases bem feitas. Sentimentos mostram-se verdadeiros quando provados por ações, tente nunca se esquecer disso.
  É claro que a entonação que você usa conta muito. Uma coisa é você brincar e exagerar propositalmente. Outra coisa é você iludir, ou até mesmo iludir-se, ao entregar suas palavras mais profundas ao calor de um momento. Ao tentar amarrar uma pessoa a você usando sentimentos vazios enfeitados com fortes palavras, tudo o que você receberá em troca será um afeto forçado, oco, que não significa nada.
  Tenha paciência. Deixe seu sentimento crescer. Deixe o tempo agir, cultive, regue, deixe-o criar raízes firmes no seu coração. Não force algo novo a ser tão grande quanto algo eterno. Entenda, e saiba traduzir as batidas do seu coração. Não engane a si mesmo. Não minta para si mesmo. Saiba usar as palavras da forma correta. Você não vive dentro de um filme de romance (Eu sei, infelizmente...rs). Nossa vida não funciona como na ficção. Não deixe que sua palavra perca todo o valor, e, da mesma forma, não deixe que outros furtem seu coração com palavras sem valor. E, o mais importante: Pense, e pense bastante, antes de tudo.



*MaRi Rezk*



terça-feira, 21 de julho de 2015

Sobre superar...

                                                      Sobre superar....




  Acabou. Foi bom enquanto durou. Foi ótimo na verdade. A gente se divertiu bastante, criou muitas memórias legais, mas não tem volta, cada um pro seu canto. Seria ótimo... se o meu maior defeito não fosse a incapacidade de superar todo e qualquer fim. Se você compartilha comigo desse problema (que não é nada fácil), vai se identificar com tudo que vai ver abaixo. Só não espere por conclusões. Ainda estou pra formar algumas...
  Não supero fim de filme, de série, de relacionamento (de qualquer tipo), de barra de chocolate. Nunca superei o final de O Espetacular Homem Aranha 2 (sem spoilers pra quem não viu [mas quem viu vai me entender]), A propósito, não superei nenhuma das mortes em Grey’s Anatomy (médicos ou pacientes). Não superei que a Rose não deu um espacinho pro Jack na madeira em que ela estava boiando. Não superei a separação do casal Chris Martin  e Gwyneth Paltrow (Green Eyes parou de fazer sentido :’( ), nem a morte do Chaves. Não superei o fim do MSN.  E com certeza não superei o fato do meu estoque de doces escondidos ter acabado.
  Mas existem aquelas perdas que só a gente sente, de algo que era só nosso. Essas são as mais difíceis de superar. É impossível encontrar quem entenda perfeitamente o que aquela perda significou pra nós. Porque, ainda que não tenha sido só você que viveu aquela situação, você ainda terá sido o único que viveu aquilo com o seu coração. E Deus sabe como um coração nunca sente igual ao outro. Portanto, cada pessoa tem aquele único sentimento, naquele único momento, e que pertence só a ela, e, por isso, tão difícil de deixar pra trás.
  Ainda assim, cada perda será lamentada, sofrida e questionada. Ainda que saibamos que é passageiro, ou que foi para o melhor, ou que não foi grande coisa. Quando aquele sentimento, relacionamento ou acontecimento chega ao fim, ainda que para o nosso próprio benefício, sentimos como se parte de nós fosse arrancada e levada para longe, e como se o nosso direito de ter aquele nosso pedaço estivesse sendo violado.
  Sou uma colecionadora de memórias. E volta e meia trago algumas de volta à vida, ainda que só por fechar os olhos e lembrar. Faz parte de não se conformar com o fato de aquilo que já tivemos não existir mais. E mesmo quando, finalmente, aquele incômodo constante é contido e consigo começar algo novo, ele nunca é completo. Como se cada nova memória estivesse acorrentada à uma antiga. E aquilo que já perdi será perdido sempre que eu ganhar algo novo.
  Como deixar uma história que teve momentos tão felizes simplesmente se dissolver no tempo, e dar lugar à uma nova? Infelizmente não ensinam isso na escola. É o tipo de coisa que a gente tem que viver na prática, e torcer pra ter nascido bom nisso. E para nós, que nascemos péssimos nisso, basta tentar, tentar e tentar, e torcer pra que o tempo torne isso uma tarefa mais fácil.



*MaRi Rezk*


terça-feira, 9 de junho de 2015

Desconhecido

                                                           Desconhecido




  Já teve a sensação de que algumas coisas só acontecem com você, e que existem alguns sentimentos, os quais você sequer sabe explicar, e que acha que só você possui? E aí, certo dia você descobre que não é só a sua mãe que coloca feijão no pote vazio de sorvete, e que aquele aperto no coração não pertence somente a você. Bate um certo alívio, uma sensação de que você não está preso numa ilha deserta com aquele sentimento. Nem com o feijão. Bom, essa introdução é para que você compreenda melhor sobre esse sentimento sobre o qual eu tentarei falar, um sentimento sem nome, e que espero não ser a única a possuí-lo. Provavelmente não chegarei a uma conclusão, muito menos a uma solução para o aperto que ele causa. Mas organizar um sentimento em palavras escritas nos ajuda a "enxergá-lo" melhor. É como se o colocássemos numa vitrine, onde podemos visualizá-lo por inteiro. Ver de outro ângulo, de fora. 
  Eu tenho o costume de vez ou outra parar e pensar em tudo. No que há de bom e ruim naquele momento da minha vida. Fujo de todo barulho, me sento confortavelmente, ligeiramente inclinada pra cima (deitar no chão também serve). Olho para o céu. Bem azulzinho, uma ou outra nuvem com um formato engraçado, bem branquinha, perdida. Pássaros livres voando de uma árvore para outra.
Olhar pro céu inspira. Tira de dentro da nossa mente tudo de bom que ela possui. Aquela calma que o azul do céu transmite clareia as ideias. E elas fluem. É um momento excelente para criação, mas também para a reflexão.
  Mas aí, dentre tantos bons e maus sentimentos que passam por nossa cabeça nesse momento, ele aparece. Aquele sentimento desconhecido. Sequer sabemos como chamá-lo. Ele começa com uma dorzinha na boca do estômago, passa pelo coração, comprimindo-o, vai até a cabeça, e inunda nossas ideias. Ele está longe de ser bom, mas, ao mesmo tempo, ele nos faz querer agir.
  Esse sentimento surge a partir das escolhas que fizemos na vida até então. O objetivo dele é nos provar que, baseado no que pretendíamos ser lá atrás, nós falhamos. Esse doloroso desconhecido nos questiona, lá no nosso íntimo: E se você tivesse tomado uma decisão diferente naquele momento? Por que você não se esforçou mais naquela época? Porque você deixou aquela oportunidade escapar?
  Essas questões podem se aplicar a qualquer aspecto da nossa vida que pareça não ter saído como o planejado. E dói, viu?! Por que, por mais correta que tenha sido certa decisão que tenhamos tomado naquele momento, lá no fundo pensamos em como e onde estaríamos se não tivéssemos feito a tal tão difícil escolha. Por que fazer o certo está longe de ser o mais fácil. E aquela decisãozinha, às vezes até um punhado de decisões que precisamos tomar naquele mesmo setor, volta e meia vem nos assombrar. Mas não nos arrependemos, porque nos lembramos que foi de fato o mais certo a se fazer. Mas mesmo assim, teríamos sido mais felizes?
  Eu sei que é um tema um pouco complicado de se compreender. Mas, se você ao ler esse texto se lembrou de algo, ou alguém, que algum dia te deixou em dúvida, e que hoje te atormenta (dentro da sua cabeça), então vai entender sobre o que estou falando aqui. E se essa pessoa, ou oportunidade, ou ocasião, parece ser mais feliz (ou fazer alguém mais feliz) que você, a nossa tortura particular dobra de intensidade. Porque a sensação de que perdemos algo parece ainda mais real. Aí, como quem não quer nada, perguntamos, assim bem sutilmente, a um amigo nosso de plena confiança, familiarizado com a questão, aquela boa e velha pergunta que você provavelmente já fez: Você acha que eu devia ter feito tal coisa? E, se o seu amigo for um bom amigo mesmo, ele vai te lembrar que sim, você tomou a decisão certa, por mais difícil que tenha sido. E o nosso coração volta a ficar em paz.
  Amigo, acredite, eu sei.
  Não vou, assim como normalmente eu faço, te dar um conselho ou uma dica de como suavizar esse sentimento tão ruim de carregar. Mas mais porque eu não sei mesmo. No máximo vou dizer como eu lido com ele, que está longe de ser a melhor maneira de se lidar com qualquer coisa.
  Eu fujo. Quando vejo que ele está prestes a aparecer, já encerro o meu momento de “olhar pro céu e pensar na vida”, e tento não deixar ele se instalar na minha cabeça. Procuro fazer com que a minha mente esteja sempre em movimento, seja injetando altas doses de ficção nela, seja por xeretar a vida. Dessa forma, não sobra espaço para o que nos chateia.
  Porque esse não é o melhor modo de lidar com esse sentimento, já que parece ter certa medida de eficácia? Porque sentimento a gente enfrenta. Para superar, tem que encarar, brigar com o nosso próprio coração. Tem que tentar entender e resolver com nós mesmos. Fugir só vai mascarar a dor. E volta e meia ela vai voltar.
  Bom, como eu disse antes, não sei a maneira certa de lidar com esse sentimento desconhecido. Mas, quem é que consegue se meter nessa eterna guerra entre razão e emoção, né?! Quem é que consegue resolver cada pequeno conflito interno que aparece?
Esses somos nós, seres humanos aflitos e confusos, tentando a cada dia entender mais dessa coisa louca que é viver, pensar, sentir.



*MaRi Rezk*



segunda-feira, 23 de março de 2015

E a gente aprende....

                                                 E a gente aprende....





  E para isso servem boa parte das coisas que acontecem com a gente. Cada pessoa que a gente conhece. Cada conversa. Cada tropeção. Tudo o que acontece ensina uma lição. Cada pontada no topo do estômago, cada ferida, cada sorriso ou lágrima, nos fazem lembrar onde erramos e onde acertamos.
  A regra geral é: aquilo que aprendemos da pior forma possível, é o que mais nos marca. Geralmente aquilo que mais machuca, é o que nos ensina com mais facilidade as mais valiosas lições. Quanto maior a queda, com mais medo de altura ficamos, e assim por diante.
  É claro que a maioria de nós tem uma característica extremamente irritante de apanhar da vida várias e várias vezes, e achar que foi uma simples coincidência, e que não vai acontecer de novo. Mas eis a lição que eu aprendi por ter esse tipo de comportamento: se você não aprende nada depois de quebrar a cara várias vezes, no mesmo tipo de situação, então prepare-se. Porque a vida vai se ver obrigada a esfregar a sua cara no asfalto até que você aprenda a sua lição. E, desse jeito, talvez você finalmente aprenda. Mas vai doer bastante, e demorar pra cicatrizar. E a lição vai ficar tão marcada, que vai ser difícil não guardá-la.
  E depois dessa grande chinelada na cara que a vida nos dá, existem, claro, os efeitos colaterais. Às vezes ficamos tão inconformados, que é difícil confiar até na própria mãe da gente (é só um exemplo, eu confio na minha mãe sim! ). Ficamos com raiva de tudo, principalmente de nós mesmos. E sofremos a cada lembrança, sempre que a ferida lateja. Mas passa. O tempo ajuda a curar, ou pelo menos ameniza a dor. E, a cada dia, mais apagada fica  a marca. E a gente, a cada dia, aprende mais com aquilo, cresce, amadurece, e, o mais importante, muda. Entendemos que o que nos faz mal, aquilo que bagunça nossas ideias, aquela situação que nos adoece, não tem que fazer mais parte das nossas vidas.
  E assim a gente aprende. Aprende que não se pode confiar 100% nem na gente mesmo (muito menos nos nossos julgamentos). Aprendemos o que é (e o que não é) um amigo de verdade. Aprendemos o valor que as distâncias podem ter nos relacionamentos (e que a distância emocional é muito mais longa do que qualquer distância física).
   Aprendemos que ninguém tem o direito de decidir de quem você pode ou não gostar, mas que as pessoas que realmente se importam com a gente podem enxergar melhor a situação em que estamos, e seus conselhos (e até broncas) podem ser muito valiosos.
   Aprendemos que nada pode envenenar mais um relacionamento (seja ele qual for)do que uma mentira, mesmo a menor delas. Aprendemos que, quem nos ama, nos ama até quando a gente não está olhando (seja qual for o tipo de amor). Aprendemos que a felicidade mora dentro da gente, não importa o que aconteça do lado de fora.
   Aprendemos que oportunidades aparecem sem avisar, e, se não as abraçarmos com toda a força, elas escapam. Com o tempo, aprendemos a lidar com as tristezas, e fazer o possível para substituí-las por alegrias. Aprendemos a relevar para não enlouquecer.
  Aprendemos que, muitas vezes, precisamos deixar algo de lado, para abrir espaço para coisas melhores que virão. Aprendemos que nem sempre aquilo que fazemos pra alguém, vai ser retribuído. Por isso, qualquer coisa que você pretenda fazer, faça sem esperar nada em troca (Porque muito provavelmente você não vai receber mesmo).
  Aprendemos que muitas pessoas que passam pela sua vida tentam fazer com que você se passe por louco. Não acredite nelas. Aprendemos que as injustiças que acontecem conosco, servem pra nos deixar mais fortes e sábios, e que ficar revoltado não vai melhorar a sua situação. Lidamos com isso de forma calma e inteligente.
  Aprendemos que pessoas que mentem e enganam outros normalmente se enrolam em suas próprias histórias. Tentamos não nos preocupar muito com isso (Apesar de ser a coisa mais difícil do mundo).
  Aprendemos que manter a paz é o mais importante, mesmo que seja contra a nossa vontade (bater na cara da pessoa não ajuda em nada, acredite), e é sinal de madureza. Aprendemos que escutar conselhos nos ajuda a pensar com mais clareza, e a tomar decisões mais acertadas. E o mais importante, aprendemos a não deixar que ninguém roube de nós a nossa alegria. É uma coisa nossa, de dentro de nós, e ninguém pode interferir nela.
  Algumas vezes pode ser que estejamos perto de ter uma recaída. E eis o que eu aprendi sobre recaídas: você terá muitas. Mas tudo bem. Insistir no erro faz parte de ser um humano imperfeito. Mas, um dia adquirimos experiência o bastante para aperfeiçoar a nossa capacidade de aprender com os erros (os nossos e os dos outros). Basta praticarmos o exercício da nossa capacidade de raciocínio, e tirarmos tudo de bom de uma situação, no caso das situações ruins, as lições. E aplicarmos o que aprendermos para o nosso bem, e para o bem de outros. Simples assim (até parece).
Ah! Quase esqueci de uma das mais valiosas lições que já aprendi da vida: chocolate não cura toda dor do coração. Mas alivia bem. Recomendo.


*MaRi Rezk*


quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Que a vida leve....

                                                    Que a vida leve....





  Conflitos sempre me deixaram doente. Sempre gostei de paz. De ter um punhado de amigos, de rir de tudo, e de relevar as pequenas bobices de quem estivesse ao redor. Me faz me sentir grande, sábia.
  O que pode ser mais sábio do que relevar e superar? Ou nem ligar?
   Como é leve não ter pelo que adoecer!
  Sempre gostei, mas nem sempre consegui.
  Mas então, quando algo resolve dar errado, ele dá uma festa de aborrecimentos, que enchem a nossa garganta de nós. Um problema nunca se contenta em ser um. Sempre vem acompanhado, e tem como hobby causar uma turbulência, que vai da cabeça ao coração.
  E o desejo de transformar esses apertos em soluções fica assim, flutuando ao redor da gente, sem nunca se concretizar (porque não nos cabe fazê-lo). Nos faz sentir falta de um dia atrás, quando tudo era menor e menos complicado.
  Pessoas tem o dom de dobrar o tamanho dos problemas.
  Existem certas ocasiões em que uma história se quebra. Quase sempre, quando algo se quebra, alguns pedacinhos se perdem com o impacto. E nunca mais os encontramos. Aquela peça nunca mais será completa. Ignorar esse fato não é consertar o problema por completo. É preciso lembrar-se que a peça remendada talvez precise ser usada de outra forma a partir de agora.
  Pisar nos cacos pode ser ainda mais doloroso. Fingir que aquilo que se quebrou não era importante pode ser uma solução momentânea. Mas um dia vai voltar e nos quebrar também.
  Porém, quando a ocasião obriga a gente a ser adulta, ainda que ser adulto dê a sensação de ser infinitamente inferior a ser criança, percebemos que ter certa medida de experiência, do tipo que nos leva a agir com maturidade, tem seu sabor.
  Por fim, é preciso saber reconhecer quando a única opção for deixar que a vida leve aquilo que não nos cabe.
  Que a vida leve o que for pesado, o que desequilibra, o que sufoca. Que permaneça o que faça feliz, o que seja simples, o que carrega a gente pra cima, e nos empurra pra frente.
  Que a vida leve o que eu não preciso, e que insisto em ter por puro capricho. Que as decepções voem para longe, na primeira brisa que passar.
  Que eu nunca me esqueça do mais importante, e deixe o de menos  para trás. E que fique só o que for leve.


*MaRi Rezk*